Fui ao dicionário ver qual a definição de Amor e percebi que, tal como na vida real, não há uma definição simples e prática para o explicar.
Tanto é descrito como o sentimento de aproximar, proteger ou conservar a pessoa pelo qual se sente afeição; ou como referência ao ser que é amado; ou como uma ligação intensa de carácter filosófico, religioso ou transcendente; ou como o gesto de grande dedicação ou cuidado; e não se fica por aí.
Num mês que se celebra o amor pela sua ligação à lenda de São Valentim, é importante sublinhar que o Amor deve ser celebrado a cada dia, independente de mês, ano, estado civil, género ou orientação. Existem várias formas de amar, mas para diferentes tipos de sentimento existe apenas uma palavra. “AMOR”.
Tudo o que irei falar a seguir, não serve para definir o amor, nem tão pouco para o catalogar, mas sim para demonstrar apenas um pouco da sua natureza imesurável, transcendente, sem forma, cheiro ou cor.
“Falling in Love” será uma das emoções mais fortes que as pessoas podem experenciar. E se usei a descrição em inglês, é porque acho que a tradução para “apaixonar” não lhe faz justiça. “Falling in Love” é como se caíssemos no abismo do amor, que nem aquela sensação de queda que por vezes sentimos quando adormecemos, tão forte que nos acorda abruptamente com o coração a sair do peito. A imensidão de sentimentos que o amor nos desperta é tão grande e tão desafiadora, que amar é realmente para corajosos. Porque se o amor engloba alegria, prazer, força, deslumbramento, diversão, ele também tem a sua cota parte de tristeza, desilusão, monotonia, apatia. Tudo faz parte de uma experiência em que todos esses sentimentos estão emaranhados e interdependentes.
Sabiam que os gregos ancestrais tinham diferentes palavras para descrever os diferentes tipos de amor??
O amor romântico será aquele que mais depressa pensamos, mas não podemos esquecer de: amor próprio, amor familiar, amor fraterno, amor a divindades, e por aí fora.
Eros ou Amor Erótico, era o que os gregos consideravam como amor intenso e apaixonado que desperta sentimentos ardentes e sexuais. Associado ao deus Eros, é descrito como um fogo poderoso e primitivo que se extingue rapidamente. Descreve as emoções de romance, paixão e atração muito associadas aos estágios iniciais de uma relação. Eros representa a ideia da paixão sexual e desejo. Era visto pelos gregos como um tipo de amor perigoso, mais primordial, de paixão e impulso sexual com duração limitada.
Philia ou Amor de Afectos, era um tipo de amor que os gregos valorizavam mais que Eros, por ser considerado um amor entre iguais. Philia era visto como um amor que se sente entre amigosque passaram por momentos difíceis juntos, que envolve sentimentos como lealdade, camaradagem e um senso de sacrifício pela matilha. Considerado um amor platónico, pois é, tal como Platão descrevia, um amor sem atração física.
Lundus ou Amor Lúdico, visto pelos gregos como uma forma lúdica de amor. Lundus é aquela sensação que temos nos estágios iniciais de quando nos apaixonamos, o coração palpitante, a provocação, a euforia. A diversão no amor é um ingrediente essencial, que muitas vezes se perde nos relacionamentos de longo prazo. Torna-se importantíssimo salientar que é na diversão que se esconde aquela inocência infantil que permite manter o amor vivo, interessante e excitante. Aristóteles enfatizava que a vida feliz deve incluir prazer. E aqui falamos do prazer inerente à diversão que nos leva a estados de mente equivalentes à diversão mais pura sentida por uma criança.
Mania ou Amor Obsessivo, é aquele amor que leva o parceiro a um comportamento de loucura ou obsessão. Para aqueles que sentem este tipo de amor, trabalhar o amor próprio é a forma de se resgatar, pois este tipo de afecto obsessivo e tóxico, está intrinsecamente ligado a uma baixa auto-estima, que leva a estados de ciúme e codependência para com os seus parceiros.
Pragma ou Amor Duradouro, é um amor que amadureceu e se desenvolveu com o passar do tempo. Pragma está além do físico, em que se transcendeu o amor casual formando uma harmonia única ao longo do tempo. Infelizmente, Pragma é um amor difícil de se conseguir, pois cada vez mais existe muita canalização de energia na tentativa de encontrar o amor, em vez de se dedicar tempo a aprender como mantê-lo. Este é um tipo de amor entre pessoas que aprenderam comprometer-se, que demonstram paciência e tolerância para fazer o seu relacionamento funcionar. Tanto pode ser visto em longas relações amorosas, como de amizade…
Philautia ou Amor Próprio, é nada mais que cuidar de nós mesmos. Já os gregos entendiam que o autocuidado era necessário antes de cuidarmos dos outros. Philautia não é sobre vaidade doentia, narcisismo ou auto-obsessão, mas sim sobre amor próprio saudável. Partilha da mesma filosofia budista da “autocompaixão”, sentimento esse que implica que sejamos compreensivos connosco, não só quando conseguimos aquilo que queremos, ou somos bem sucedidos e felizes, mas também quando sofremos, falhamos ou nos sentimos inadequados. Pois ao praticarmos autocompaixão, ganhamos a capacidade de aceitar que somos imperfeitos. Aristóteles descreveu que “todos os sentimentos amigáveis que sentimos pelos outros são uma extensão do que se sente sobre si mesmo”. E aqui defende-se a ideia de que a maneira para sermos verdadeiramente felizes é encontrar o amor incondicional por nós mesmos.
Agape ou Amor Universal, era visto pelos gregos como o amor mais radical e elevado. Alguns chamam de amor espiritual, pois é um amor incondicional, maior que nós mesmos, que assenta numa compaixão sem limites. É uma forma pura de amar, livre de desejos ou expectativas, dado sem esperar nada em troca, independentemente das falhas e deficiências dos outros.
Muitas vezes reduzimos a nossa demanda pelo amor, na busca de uma história romântica, mas a mensagem que os gregos nos deixaram é a de que existem vários tipos de amor, dando-nos vocabulário e melhor compreensão que nos ajudam a reconhecer os vários tipos de sentimentos que nos assistem.
E se já na altura existia uma compreensão aberta de diferentes possibilidades de amor ajustadas à realidade deles, paremos um pouco para refletir que também temos a capacidade de abrir as nossas mentes, para compreender e aceitar todos os tipos de amor que nos rodeiam. Para além da enormidade de amor que também somos capazes de sentir. Nunca renunciem ao amor, por mais desafiante que seja!!
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